segunda-feira, 29 de outubro de 2012



Junta as folhas do outono e junta a velhos sentimentos, deixa os mesmos ventos que as derrubaram soprarem para bem longe do teu alcance, até virarem nada. Bate os panos brancos cor de terra e varre toda a poeira que insiste em ficar pra debaixo do tapete persa com linhas tortas que me confundem. Desnua os teus pés e deixa que eles toquem o chão frio da saudade, até que eles consigam andar sobre espinhos das possíveis rosas que brotarão. Abre os braços da compreensão e sente a liberdade do perdão. Grita até acordares do transe abstrato dos pássaros na grande abacateira seca, sem frutos e raiz. Abre a janela da alma e deixa aquele beija-flor negro transformar-se em cores vivas e deixa o néctar da primavera, desperta, ontem foi outubro. Sim, aquilo que corria sobre os teus olhos não eram lágrimas, e sim sementes que derramaram sobre a sala cheia de retratos à sombra do abajur pálido e inócuo. Arranca a seiva venosa do teu peito e deleite-te sobre a grama verde. Desenha flores, campos e movimente-te para dentro de uma nova estação, mas cuide-te para não te queimares sobre o mesmo sol que te espera escondido entre nuvens de felicidade, pois, o verão é traiçoeiro, veraneio e pode sufocar toda paz e alegria que qualquer primavera proporciona.

- Pietro Kallef

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